A leitura de um texto exige do leitor identificações como: quem é o autor do texto, por que o produziu, para quem, qual foi o plano da produção, quais argumentos utilizou para convencer o leitor. Diante disso, leia partes do texto a seguir, do autor Luli Radfahrer, colunista da Folha de São Paulo, retirado do Observatório da Imprensa.



Eu não quero saber da sua vida



Reclama-se de invasão de privacidade, mas quem tem vida privada hoje em dia? Quando foi a última vez que você comeu em um bom restaurante, viu uma bela obra de arte ou foi para uma balada sem tirar uma foto e postar online? Quando foi a última vez que um amigo seu o surpreendeu com algo que tenha feito que não foi fofocado pelo Facebook? Um tipo de privacidade muito desrespeitada é a dos desinteressados, que não se comovem com a vida de seus vizinhos, não leem a revista Caras, não assistem a big brothers, domingões, caldeirões ou vídeoshows e mal conseguem guardar os nomes dos atores e diretores dos filmes que veem.



Para estes pobres, alheios a quem dorme com quem, quando e onde, as redes sociais devem parecer ferramentas desenvolvidas para uma multidão narcisista, burra, voyeur e birrenta, pronta para dar opiniões impensadas a respeito dos assuntos mais bestas possíveis, cuja única regra parece ser a do “compartilho, logo existo”. [...] É praticamente impossível entrar em uma rede social e não ficar sobrecarregado com o volume de imagens e dados demasiadamente pessoais. A necessidade que alguns têm de falar do seu desejo por uma roupa nova, de sua higiene pessoal, de seu mau humor quando serviços e ou serviçais falham parece patológica. [...]



Tudo o que deveria ser guardado para si parece material de divulgação. O que é essa compulsão por dividir? Esse ataque coletivo de ansiedade cujo único antídoto parece ser compartilhar ainda mais? Psicólogos dizem que um dos motivos principais para a troca de informações é o contato emocional, que demanda um esforço razoável para administrar a opinião do outro e tentar impressioná-lo. Quando isso é feito o tempo todo, é fácil provocar situações embaraçosas precisamente entre as pessoas que mais queremos impressionar. [...]



Como a noiva na festa de casamento, cada usuário precisa dar atenção a todos, mesmo que de forma efêmera e rasa. Com isso boa parte da riqueza das relações interpessoais é perdida, desumanizando seus atores e forçando os mais carentes de atenção a exagerarem suas atitudes para que pareçam interessantes o suficiente. O Facebook é a rede da vez. Ela morrerá, surgirão outras. Abandoná-las é tão inviável quanto viver sem cartão de crédito, celular, conta bancária, plano de saúde, emprego ou qualquer tipo de atividade que deixe registros.



Mais do que isso, abandoná-las reduz oportunidades reais de autoexpressão, convívio, crescimento pessoal, aprendizado e intercâmbios sociais em geral. Já que os processos de socialização digital e construção de identidade são inevitáveis é importante redefinir, com eles, os limites e regras de etiqueta no convívio.



Disponível em: . Acesso em: 02 jan. 2020.



Para compreender o ponto de vista defendido no artigo de opinião, considere as seguintes afirmações.



I. O autor introduz o tema e o seu ponto de vista sobre o assunto nos quatro primeiros parágrafos do texto. Ele começa citando que as pessoas reclamam que têm a sua privacidade invadida.

II. Nos parágrafos seguintes ele expõe sua opinião afirmando que os mesmo que reclamam são os que expõem suas vidas em redes sociais. Apenas poderiam reclamar aqueles que são “desinteressados”, isto é, alheios a fofocas em redes sociais.

III. Ainda, o autor traz exemplos e argumentos que sustentam o ponto de vista anunciado. Para dar mais peso a seus argumentos, ele utiliza algumas estratégias mencionando fatos do cotidiano, utilizando vozes de autoridade e comparação com situações reais.

IV. Ao final, o autor finaliza sua argumentação, ratifica seu ponto de vista e conclui seu texto, constatando que sempre haverá alguma rede social em voga e que não é viável simplesmente abandoná-las.

V. Em resumo, o autor busca uma posição intermediária: ele é contrário ao uso das redes sociais feito por muitas pessoas, que expõe sua intimidade. Entretanto, ele não acredita que simplesmente abandonar essas redes, seja a solução, até porque considera que seu uso é desnecessário.



Estão corretas:


as afirmativas I e II, apenas.


as afirmativas II, III, e IV, apenas.


as afirmativas III e IV, apenas.


as afirmativas I, II, III e IV, apenas.


as afirmativas I, II, III, IV e V.

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