Podemos distinguir dois tipos de processos imaginativos: o que parte da palavra para chegar à imagem visual e o que parte da imagem visual para chegar à expressão verbal. Com relação à arte literária, perguntemo-nos: como se forma o imaginário de uma época em que a literatura, já não mais se referindo a uma autoridade ou tradição que seria sua origem ou seu fim, visa antes à novidade, à originalidade, à invenção? Parece-me que, nessa situação, a questão da prioridade da imagem visual ou da expressão verbal (que é mais ou menos como o problema do ovo e da galinha) se inclina decididamente para a imagem visual. Entretanto, que futuro estará reservado à imaginação individual nessa que se convencionou chamar “a civilização da imagem”? O poder de evocar imagens in absentia continuará a desenvolver-se em uma humanidade cada vez mais inundada pelo dilúvio das imagens pré-fabricadas? Antigamente, a memória visiva do indivíduo estava limitada ao patrimônio de suas experiências diretas e a reduzido repertório de imagens refletidas pela cultura; a possibilidade de dar forma a mitos pessoais nascia do modo pelo qual os fragmentos dessa memória se combinavam entre si em abordagens inesperadas e sugestivas. Hoje, somos bombardeados por uma quantidade de imagens tal, que não conseguimos mais distinguir a experiência direta daquilo que vimos há poucos segundos na televisão. Estamos correndo o perigo de perder uma faculdade humana fundamental: a capacidade de pôr em foco visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de “pensar” por imagens. Penso em uma possível pedagogia da imaginação que nos habitue a controlar a própria visão interior sem sufocá-la e sem, por outro lado, deixá-la cair em confuso e passageiro fantasiar, mas permitindo que as imagens se cristalizem em forma bem definida, memorável, auto-suficiente. Seja como for, todas as “realidades” e as “fantasias” só podem tomar forma por meio da escrita, na qual exterioridade e interio

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