“Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante” (CUNHA, Euclides da. Os sertões. 29. Ed. Rio de Janeiro: Círculo do livro, 1975. p. 38). Numa visão generalista, o excerto de Os sertões é exemplo de uma construção linguística mapeada por elementos constituintes de um texto dissertativo. fundamenta-se nas circunstâncias, visto que, para o processo criador, seria impossível apresentar imagens da caatinga sem ser dependente daquele mundo hostil. não está centrado apenas na referência aos dados da realidade; consta-lhe também um tratamento estético, tanto na ordem dos sentidos quanto na estruturação semântica. apresenta imagens de um ambiente hostil, completamente recriadas pela imaginação do sujeito. abdica das metáforas para não sucumbir aos apelos fantasiosos de uma narrativa ficcional.

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